Não
vamos citar nomes para não ferir suscetibilidades.
Mas,
uma pessoa entrou em contato comigo, pois ficou sabendo que eu elaboro Projetos
Culturais e os encaminho ao MinC para aprovação, via Lei Rouanet.
Então,
ela me falou de sua arte e perguntou-me se seria possível conseguir algum patrocínio
com aquele projeto. Respondi que sim e que eu poderia elaborar-lhe um projeto
cultural.
Então,
ela começou a fazer uma bateria de questionamentos sobre como funcionava a lei,
que elementos faziam parte de um projeto e algumas perguntas especificas sobre
a apresentação de alguns argumentos ao MinC.
Foi
aí que percebi que eu a estava ensinando como elaborar um projeto cultural.
Então, procurei estabelecer uma parceria e perguntei-lhe se eu poderia
formular-lhe uma proposta de trabalho. Ela concordou e enviou-me um esboço de
seu projeto, a partir das orientações que eu havia repassado-lhe.
Li
o material que ela enviou-me e encaminhei-lhe uma proposta, com a apresentação
do orçamento de meus honorários. Aí veio a surpresa!
Ela
reagiu à apresentação de minha proposta com estranheza, pois segundo a opinião
dela, ela não deveria pagar pela elaboração de um projeto que vai contra os
objetivos de sua arte: a democratização do acesso. E ainda sugeriu que “se eu
quisesse, então eu fizesse o projeto e o encaminhasse de graça, para que, se
aprovado, eu fizesse a captação dos recursos para viabilizá-lo”, descontando
“minha parte”.
Bem,
admito que eu é que achei estranho o fato de ela achar estranho eu cobrar por
uma prestação de serviços.
E
questionei: Por que eu que tenho que viabilizar de graça a democratização do
trabalho dela? Afinal, elaborar projetos é a minha atividade, meu ganha-pão, a
forma como eu sobrevivo.
E,
citando Cacilda Becker, argui: “Não me peça de graça a única coisa que tenho para
vender!”.
Então
por que eu não deveria cobrar para elaborar projetos culturais, afinal, a
cultura tem que ter livre acesso e não se deve pagar para conseguir esta
prerrogativa?
Bem,
se entendermos desta forma, precisamos discutir que os professores deveriam dar
aulas de graça, que políticos não poderiam ser remunerados, que jornais e
revistas deveriam ser distribuídos de graça, etc...
Também
a forma proposta para a execução de meu trabalho (fazer, captar e descontar “minha
parte”) causou-me estranheza.
Digamos
que eu estou desempregado e preciso fazer uma cirurgia. Então eu falo para o
médico: “Não concordo que eu tenha que pagar pela cirurgia, pois eu acho que a
saúde é um direito constitucional. Se você quiser, me opere e depois me arranje
um ótimo emprego, então você pode descontar o valor da cirurgia de meu primeiro
salário”.
Mas,
para não parecer que estou assumido uma postura intransigente, radical e insensível aos apelos da
arte, devo dizer que já elaborei e elaboro alguns projetos a título de
cortesia, que já diagramei e fiz a arte final de livros de escritores
independentes e que não tinham como me pagar. Mas, nem sempre!
Inevitavelmente,
mesmo para a difusão da arte libertária e que se proponha a conquistar uma
maior abrangência e atinja seu propósito de democratização de acesso, será
necessária a captação e o ajuntamento da "hóstia do capitalismo".
Esta
mesma arte precisará de parceiros, de parceiros abastados, parceiros burgueses,
parceiros que comprem esta arte como um objeto de consumo, para que ela seja
distribuída de graça com seu manifesto libertário.
Assim,
quando alguém me pede para fazer de graça aquilo que ordinariamente cobro para
fazer, eu pergunto:
-
Você pede carona à táxi?